É o que as pessoas fazem da Vida que transforma a Morte em algo terrível.
Como pode o único evento, que se tem a certeza que ocorrerá, ser encarado com tanto medo e tantas reservas? Há pessoas que sequer concebem uma conversa sobre a Morte. Não falam, não pensam, não se preparam.
Pessoas, animais e plantas podem nem vir a nascer. Mas, depois de nascidos, o seu curso natural levará a todos, impreterivelmente, às mãos da Morte. Ela é certa, invariável, infalível e, além de tudo, uma vitória sobre a existência.
Por que temos, então, aqui no Brasil, esse costume de tornar algo natural e inevitável numa situação de pavor e horror? Será que conhecemos pouco a morte? Ou será que somos, ao contrário do que se prega, tão materialistas que tememos o fim do corpo? Se somos um povo tão espiritualizado como dizem, deveríamos encarar o fato com a naturalidade de que a Morte faz parte da Vida - não há uma sem a outra.
Às vezes penso se todo esse melindre não está arraigado apenas nas pessoas das grandes cidades, embora convivam com a morte diariamente, porém, em grandes casos, com mortes violentas e prematuras. O homem do campo, por presenciar e até contribuir com o ciclo da vida de semeadura-nascimento-crescimento-decadência-morte esteja mais resignado que o fim de todos é o mesmo: o retorno à terra. Por vivermos apartados da natureza, da terra, temos esse elo rompido e nossa existência, que se enche de vazio, se droga com ilusões de poderes sobrenaturais e eternidades que jamais existirão.
Já experimentei a morte diversas vezes, daqueles que me eram tão caros, mas que seus caminhos chegaram ao fim. Certamente, aquele que se vai leva algo de nós, nos fragmenta o coração e jamais se reconstituirá. Mas a Vida prossegue, Aqui e Lá. Para eles e para nós. Saudade fica, pois parte deles também fica conosco. Vontade de abraçar novamente, de contar a novidade do dia... não importa quanto tempo passará, isso acontecerá para sempre com aqueles que Ficaram.
Porém, nem isso se justifica essa ojeriza em relação à Morte. Possível fosse que todos - pessoas, animais, plantas - esmaecessem aos pouquinhos até apagar, sem dor, sem desespero. Mas, como falei no início da postagem, é o que NÓS fazemos da Vida que transforma a Morte em algo que ela, definitivamente, não é: ruim. E, muito pior, é o que fazemos da Vida de outros, como fazemos aos animais que nos servem ao paladar (que a indústria insiste em dizer que é para a sua saúde - mentira!).
Dia dos Fiéis Defuntos - Dia de Finados
Para as comunidades católicas, 2 de novembro é o dia em que se homenageia os Fiéis Defuntos. É uma data criada pela Igreja, embora o Culto aos Mortos seja tão antigo quanto a Humanidade, porém são questões diferentes.
Foi a partir do século 5 que a Igreja passou a dedicar um dia do ano para rezar para todos os que morreram no anonimato, para aqueles que ninguém conhecia ou se lembrava para dedicar-lhes uma oração. Porém, somente no século 13 que o dia 2 de novembro foi instituído como o Dia dos Fiéis Defuntos (Finados, para nós). Essa foi uma data estratégica, pois um dia antes, 1° de novembro, é o Dia de Todos os Santos, em que são celebrados todos aqueles que viveram pela fé em Cristo, como os santos e mártires. E, antes disso, ainda, foi mais uma forma para abafar o Festival de Samhain, que era uma festividade pagã dos povos celtas, que comemoravam o início de um novo ano, o final das colheitas e os preparos para o Inverno. De certa forma, havia o Culto aos Mortos durante o Samhain, então a Igreja se valeu de mais uma vez de uma festividade pré-cristã para incorporar seu domínio, sincretizando-se às tradições mais antigas.
Día de los Muertos
Muito diferente do que se presencia em qualquer lugar, especialmente aqui, o Día de los Muertos, no México, é uma festividade com direito a muita animação, boas comidas, bebidas, doces, música, algo que para nós é um verdadeiro carnaval, afinal, como os próprios mexicanos afirmam "Celebrar la Vida en el Día de los Muertos".
Muito diferente do que se presencia em qualquer lugar, especialmente aqui, o Día de los Muertos, no México, é uma festividade com direito a muita animação, boas comidas, bebidas, doces, música, algo que para nós é um verdadeiro carnaval, afinal, como os próprios mexicanos afirmam "Celebrar la Vida en el Día de los Muertos".
É um festival muito antigo que foi cristianizado, que se origina de um Culto aos Mortos com uma história de mais de 3000 anos. Hoje, a festa é uma "Obra Mestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade", declarada pela UNESCO em 2003.
É uma celebração indígena, cujas origens são anteriores à chegada dos espanhóis. Há relatos que os astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este Culto aos Mortos. As caveiras, símbolos dessa festividade, vem dessa época, em que era comum conservarem crânios e exibi-los durante o festival.
Como uma das coisas que os antigos faziam ao celebrar os mortos era os sacrifícios humanos, até mesmos os espanhóis ficaram horrorizados com essa prática e, através da catequização daquele povo, conseguiram fundir o culto às tradições católicas dos dias de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos.
O festival do Día de los Muertos se inicia em 31 de outubro e se estende até o dia 2 de novembro. Essa comemoração vai além do México: América Central e parte dos Estados Unidos (Texas, Arizona, Califórnia, São Francisco, Boston e Montana) também têm seu Día de Muertos.
Em todo o mundo, em todas as nações, há celebrações e homenagens àqueles que nos precederam à Morte, vencendo a Vida. O Culto aos Mortos ou Culto aos Ancestrais faz parte da Humanidade, assim como a própria Morte faz parte da Vida, sendo impossível desvincular uma da outra. Porém, a visão que temos de algo tão certo quanto natural depende de nós mesmos. Tornar algo abominável aquilo que é um verdadeiro atestado de que cumprimos nossa missão aqui na Terra, é uma tolice que apenas gera angústias. O fim chega para todos. Não há nada mais justo e indiscriminado quanto a Morte.
4 comentários:
Vc sabia que eu adorei este post, muito legal o que escreveu...
Amiga, saiu do face?
Tenho um meme no blog que vc vai gostar, eu falei do seu livro ^^
beijos
http://dailyofbooks.blogspot.com.br/2012/11/meme-e-selinho.html
Olá!!
Diferente a maneira como você fala da morte. Acho que nós não falamos tanto disso pela dor que ela nos causa. Sempre que falamos em morte é inevitável lembrar de alguém que gostamos tanto e que agora já se foi.
Agora, aqui no Brail há o Walked Dead, onde pessoas desfilam nas avenidas para se divertir. Algumas pessoas podem achar que é desrespeito, mais sei lá.. não sou fã de zumbis... rsrsrsrs
Até mais
Oi, Camila!
Que bom que gostou do post! Num tema como esses, a gente acaba esperando o contrário, rs.
Eu só me ausentei do Face por um final de semana, por causa do "Facebookcídio", uma performance virtual como protesto pelos problemas no MS que podem causar um massacre dos Guaranis-Kaiwoas... mas já tô de volta por lá.
Obrigada pelo meme, adorei!
Bjoxxx!
Oi, Naty!
Não sabia que esse Walked Dead já tinha virado tradição e era feito no dia de finados... viu como sou antenada??
Também não gosto de zumbis, mas se o povo está fazendo essa brincadeira em Finados, só posso ver isso de forma positiva. Não vejo como desrespeito. Mas seria mais legal se fizessem um "carnaval" como fazem no México, hahah!
Bjoxxx!
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