30 de dez. de 2013

Peeiras HQ

Já está disponível para download o projeto de Alfer Medeiros, PEEIRAS HQ, que são 7 Histórias em Quadrinhos baseadas no universo de Fúria Lupina, tendo como protagonistas das "Fadas dos Lobos", as Peeiras, exclusivamente desenhadas por mulheres!

E eu sou uma delas :)

Peeiras HQ conta com as artes de Adriana Ortiz, Gabi Firmo de Freitas, Carolina Mancini, Rosana Raven, Camila Araújo, Celly Monteiro e Eu (de novo).

A arte do Roteiro ficou por conta do Autor e organizador Alfer Medeiros, e a capa por  Gaby Firmo de Freitas.

Para o download, clique aqui :)

25 de dez. de 2013

Conto de Natal - Três Cantos - Parte 13 Final

Parte 13 – Sempre Sonhos!

Por pouco Joshua não se tornou um bom e fiel católico.
 

Desde aquela missa em que reviu a sua  Sereia Negra, ele passou a ir todos os domingos à Igreja Sagrada Família, às vezes mesmo sem a companhia dos pais. Mas, por algum acaso, não tornou a encontrar Miriam. Talvez ela não frequentasse tanto assim a igreja quanto ele pensou ou, se frequentava, deveria ser em qualquer outro horário que não aquele das 10 horas da manhã.

Todos esses fatos contrários aos desejos de Joshua só o fizeram mais frustrado e raivoso quanto à sua condição de aluno em recuperação. E foi essa raiva que o fez vencer a dependência com as notas máximas, conquistando em definitivo a sua liberdade que antes era apenas condicional.

De qualquer forma, essa liberdade parecia ter perdido importância, visto que não conseguia mais reencontrar Miriam, depois que, finalmente, achou o presente perfeito para ela. Quase “montou acampamento” no final do Praião e na Praça As Primaveras, esperando rever a garota... mas sem êxito.

Era segunda-feira, véspera de Natal. Enquanto a irmã, a mãe e o pai se divertiam em organizar a ceia, Joshua permanecia introspectivo, distante, sentado sobre o muro baixo do quintal, olhando o nada na rua deserta de calçamento em paralelepípedos. O dia estava bonito, com nuvens plumosas no céu muito azul e o festivo Sol de Verão. De onde estava, ouvia as ondas estourando no Praião e os passarinhos fazendo algazarras na amendoeira da casa.

Madalena chegou sorrateira e, vendo o irmão tão distraído, pensou em dar-lhe um susto, mas desistiu no último instante. Estendeu a taça com a salada de frutas que ajudou preparar.

— Nossa, que coisa! Esse tiro do cupido foi à queima-roupa mesmo, heim! Nunca vi nem o Tiago dessa forma, e olha que ele é todo sentimental!

— Pois é... – Joshua concordou, catando primeiro as frutas preferidas dentro da salada. — Nem eu tô me reconhecendo! Já tô me achando um pateta ridículo com isso!

— Não é pra tanto... o que mais pretende fazer?

— Do jeito que tô me sentindo? Vou é desistir dessa parada! Mas vou entregar o presente dela de qualquer jeito, mesmo que ela nunca o receba!

— Hum? Como assim? – Madalena parou a colher cheia de pedacinhos de fruta a meio caminho da boca, olhando espantada para o irmão.

O garoto devolveu um olhar decidido, quase frio, à irmã.

— Vou deixar o  hashi com um cartão endereçado à Miriam, lá na árvore da praça. Quem sabe alguém que a conheça encontre e estregue pra ela?

~*~*~*~

Dias bons e leves, de atmosfera alegre, tendem a passar muito rápido. E foi dessa forma que passou a segunda-feira, 24 de dezembro. Já eram mais de oito da noite quando Joshua saiu do banho. Depois de pronto e arrumado, pegou o presente de Miriam, juntamente com o cartão que afixaria na Árvore de Natal da praça. Ao menos, ele cumpriria a sua promessa.

Saiu às pressas de casa, sob perguntas e protestos  de Maria e José, que ele respondeu evasivamente, dizendo que não demoraria na rua. Madalena sorriu cumplice, mas manteve o segredo que o irmão confiou apenas a ela.

Chegou em cinco minutos à praça, montado em sua bicicleta de alumínio. Estranhou as ruas tão vazias e a praça tão deserta – nem os dois pipoqueiros estavam fazendo ponto na beira da calçada.

Não se ligou nisso por muito tempo. Como um refugiado de cidade grande, Joshua tinha seus receios de lugares vazios, especialmente à noite, mas ignorou o alerta padrão do seu instinto de sobrevivência. Deixou a bicicleta encostada em um banco e caminhou até a Árvore de Natal, parando adiante com reverência.

Por mais estranho que fosse, aquilo lhe era importante, pois foi um momento marcante em sua jovem existência. Olhou a árvore de baixo à cima. As luzinhas piscavam em cadências variadas, como se bailassem em volta do pinheiro feito de palmeira. Os olhos do adolescente chegaram à estrela no topo, que brilhava de forma tão intensa que parecia faiscar! Então Joshua percebeu, acima da árvore e da estrela, a forma de foice luminosa da Lua Crescente. Por algum motivo que ele desconhece, aquela visão o levou a um quase transe.

— Joshua...?

O corpo de Joshua estremeceu ao ouvir o seu nome ser chamado de forma vacilante. Desceu lentamente o olhar para a direção da voz fina que o chamara mais uma vez, agora com uma entonação preocupada. Mas, devido à pouca luminosidade da praça e por suas retinas estarem feridas pelas luzes, fazendo ver apenas pontos luminosos coloridos piscando diante dele, custou a perceber quem se encontrava à sua frente.

— Você está bem?

Após piscar em profusão, o embotamento de sua mente se dissipou, e Joshua quase pensou que delirava! Miriam, com um vestidinho branco bordado sob um casaquinho azul celeste, estava diante dele, com os cachinhos soltos e iluminados pelas lampadinhas coloridas. Ela era mesmo uma Aparição!

— Miriam! Eu... poxa! Me perdoa! Eu nunca quis te dar um bolo! Não foi a minha intensão ter cortado o contato contigo dessa forma!

A menina negou com um meneio, sorrindo complacente, tendo não apenas os olhos e o sorriso luminosos, mas ela inteira.

— Você não me deve nada, Joshua! Eu também não ajudei em nada, desaparecendo um pouco daqui de Barra! Eu moro do outro lado da ponte, em Aquarius. E como lá é tumultuado se comparado com aqui, você não conseguiria me encontrar se pensasse em me procurar por lá. Joshua sorriu, sentindo um peso invisível sair de seus ombros. — Então, você... não está com raiva de mim? Não pensou que eu tivesse feito de propósito?

Suspirando profundamente, Miriam desviou o rosto para o outro lado da praça, onde ela avistava o Presépio e o coreto decorado.

— Bem... sim. No início eu pensei que você só tivesse tirado uma com minha cara! Mas, aí quando a raiva esfriou, pensei direito e... cheguei a conclusão que você não podia ter falhado em nada, se não se comprometeu com nada.

— Mas eu me comprometi, sim! Eu insisti para nos vermos novamente e até te prometi...

Joshua lembrou-se do porquê de estar ali, naquela praça, àquela hora e em plena véspera de Natal. Olhou para o pequeno embrulho em suas mãos, com um cartão natalino colado.

Não fora um golpe de vista.  Fora mesmo uma Estrela Cadente! E o seu pedido não foi apenas atendido, como também veio bonificado. Miriam o desculpou, sem que ele tivesse a oportunidade de se justificar e se desculpar!

Desembrulhou o hashi, enfiando o papel de presente e o cartão no bolso traseiro do seu jeans. Com ambas as mãos, estendeu o prendedor à garota, como se oferecesse a ela uma coroa cravejada de pedras preciosas. Mas, para ele, aquele simples porém bonito objeto valia mais que qualquer joia cara!

Com a mesma solenidade que Joshua estendia o palito de cabelos, Miriam o pegou. Manuseou como fosse cristal delicado.

— É... lindo!

— É... perfeito para você!

Pelos instantes em que ficaram se admirando, Miriam se lembrou, por sua vez, o que ela veio fazer na Praça As Primaveras.

Retirou do bolso do casaquinho um embrulho, com um cartãozinho e um laço preso ao papel decorado. Era  o presente que confeccionou para Joshua e deixaria entregue na Árvore de Natal. Faria um pedido para que, de alguma forma, o pacotinho chegasse até ele.

Lembrou-se, então, do pedido que fez quando a sétima onda estourou na praia, antes de ela entrar no mar  para procurar por uma concha que se encaixasse na pulseira que trançaria. O seu pedido foi atendido e com bônus!

— Eu fiz isso para você...

Envolveu o pulso de Joshua com a pulseira feita em palha fina, adornada com sementes vermelhas e conchinhas escuras. Ficou um bonito contraste com a pele do garoto, que agora era negra e não mais pálida por falta do Sol.

Fosse pela emoção do momento, fosse porque realmente existe a Magia do Natal, pontos luminosos começaram a vagar e envolver Miriam e Joshua numa miríade de luzes coloridas. A estrela artesanal refulgiu, tendo a foice lunar acima a envolver com sua própria luz. Etéreo e distante, como se viesse do interior da restinga e se mesclasse às águas do São João, uma música que lembrava harpa e oboé enchia o silêncio da noite, envolto do farfalhar da brisa nas folhas das árvores e arbustos. E neste cenário onírico, duas almas se reconheceram e se consolidaram.

FIM

24 de dez. de 2013

Conto de Natal - Três Cantos - Parte 12


Parte 12 – Última Folha

Armação de Búzios era, definitivamente, muito diferente de Barra de São João e Rio das Ostras. Essa cidade litorânea, um dos mais belos balneários do Rio de Janeiro, não era um refugio de veraneio como as outras cidades vizinhas, nem um conglomerado de “refugiados” como as demais estavam se tornando. Búzios era naturalmente linda, mas possuía o charme que permaneceu da antiga vila de pescadores e o glamour emprestado de Brigitte Bardot, que divulgou a cidade ao mundo e, até hoje, mais de 40 anos depois, ainda recebe turistas do mundo todo, sendo rota dos transatlânticos.

Madalena e Joshua não precisavam caminhar muito. Não muito longe da Rua das Pedras, estavam diversos artesãos com suas esteiras e algumas barraquinhas. E havia um grupo hippie com suas bijuterias e adornos rústicos, criativos, de peças ímpares. O que, para Joshua, ficou complicado. Ele não tinha a manha para discernir o que era bacana ou bonito; para ele, todas as peças eram esquisitas e não conseguia acreditar que alguém tivesse a coragem de usar aquelas coisas! Ele viu até um adorno feito com espinha de peixe, eca!

No mesmo instante, pensou em desistir, concluindo que era uma ideia idiota pensar que Miriam gostaria de  alguma daquelas coisas. Mas Madalena interferiu, percebendo a cara de desaprovação e a hesitação do irmão.

— Você pode não gosta, Josh, mas garanto que garotas na idade da Miriam se amarram nessas coisas hippongas. E agora que já estamos aqui, não vai desistir, não é mesmo?! Joshua concordou de má vontade e fez um esforço maior para olhar e escolher uma peça.

Como em um passe de mágica, seus olhos foram atraídos para uma outra esteira, forrada com veludo preto, e lá estava a peça que tanto queria, como fosse a única exposta e houvesse um holofote brilhando sobre ela: branca, com vazados que lembravam rendas, lasquinhas de madrepérola e um grande pérola disforme mas bonita.

Joshua sentiu-se atraído para a peça e sequer se lembrou de pedir licença para pegar o hashi.
O artesão sorriu ante o sincero interesse do garoto.

— Esse palito de cabelos é uma peça única, feita sob inspiração de Mãe Yemanjá! Foi esculpido em Jarina, que chamamos de marfim-vegetal, e recebeu caquinhos da parte interna, o nácar, de conchas brancas. A pérola na ponta larga do palito é de água-doce, que chamamos de pérola brasileira ou barroca.

— É... perfeito! Como conseguiu fazer o rendado no cabeçote do palito? É tão pequeno! Parece frágil!

— Broca de dentista. Usamos muitas ferramentas médicas para essas operações delicadas!

Foi com olhos brilhantes que Joshua estendeu o hashi ao artesão, para que ele embrulhasse.

— Vou levar! 

Continua...

23 de dez. de 2013

Conto de Natal - Três Cantos - Parte 11

Parte 11 – Moreninha


Ele jamais comprara algo para uma garota em toda a sua vida. O mais próximo disso foram os presentes para a mãe, mas sempre em companhia do pai e geralmente com a escolha dele.


Naquele momento vivenciava mais um algo novo: a busca pelo presente perfeito para a primeira menina perfeita da sua vida!


Prometeu a ela que lhe daria um novo palito para prender cabelos, embora achasse que os cabelos dela eram bonitos demais para ficarem presos. Mas promessa é dívida.  E ele estava duplamente endividado com Miriam!


Rodeou a manhã inteira de sábado em busca do tal prendedor. Nem tanto por lojas, que essas eram mínimas na região. Foi de Barra à Rio das Ostras de bicicleta, sempre atento em encontrar algum artesão pelas ruas.


Já cansado pela busca frustrada, xingou mentalmente por não encontrar nenhum hippie pelas praias, com suas esteiras cheias de badulaques e bijuterias rústicas e únicas. Figuras tão comuns nesses lugares, mas não quando mais se precisava delas!


Voltou para casa com as pernas doloridas de tanto pedalar. Tomou banho, almoçou e caiu na cama, adormecendo instantaneamente. Teve sonhos perturbadores ocasionados pela culpa e

frustração que sentia em relação à Miriam. Acordou sobressaltado, com sua irmã mais nova, de 25 anos,  lhe cutucando o ombro. Ela viera para passar o Natal com os pais e o irmão caçula... e ela era exatamente quem  Joshua mais precisava naquele momento delicado!


— Acorda, velhote! Um moleque da sua idade dormindo em plena tarde de sábado?! E ainda por cima nesse lugar maravilhoso de praias deliciosas?! Vai se aprontar, preguiçoso! Nós iremos jantar em Búzios e fazer comprinhas na Rua das Pedras!


Ir com sua irmã Madalena em Búzios? Fazer comprar na Rua das Pedras? 


Após um minuto de hesitação e rabugice por ter sido acordado daquele jeito, Joshua percebeu a muito conveniente oportunidade que se apresentava diante dele! Sim! Lá em Armação de Búzios ele encontraria o presente perfeito para a sua menina perfeita!


~*~*~*~*~


Depois que sua irmã ficou satisfeita com as fotos tiradas ao lado de Brigitte Bardot, ou melhor, da estátua dela forjada em bronze, Joshua e a família foram jantar. Era um restaurantezinho tradicional, com peças náuticas decorando o lugar e velas coloridas acesas sobre garrafas de vinho, com as ceras multicolores de milhares de velas anteriores  que se derreteram sobre o gargalo, formando uma escultura espontânea e única em cada “castiçal”.


José e Maria não tinham o mesmo pique dos filhos e preferiram não acompanhá-los na incursão pela Rua das Pedras. Ficaram esperando por eles na varanda de uma cafeteria que possuía uma vista privilegiada do mar de Búzios, com seus tradicionais transatlânticos brancos que mais pareciam enormes ilhas flutuantes e fantasmagóricas contra o cenário noturno.


Joshua entendeu isso como mais uma “conspiração do Universo” a seu favor. Precisava desabafar e sabia  que Madalena seria a melhor confidente e conselheira que ele poderia querer. Ela era a filha caçula antes de ele nascer. E um dos temores dos irmãos é que Joshua se tornasse muito dependente, tímido e inseguro, devido à superproteção que os pais poderiam dar ao filho temporão. Isso apenas não aconteceu porque seus dois irmãos mais velhos – Mateus e Isabel, que tinham idade para serem pais do caçula! – orientaram os próprios pais perante uma criança que não carecia de cuidados além dos que se devem dispensar a qualquer criança.


E, em muito pouco tempo, Joshua relatou toda a sua nova vida em Barra de São João, sem omitir Miriam e tudo que a envolvia.


Madalena olhou para o irmão com um sorrisinho enigmático. Não havia mais o que temer pela criação super protetora, que felizmente jamais existiu de fato... o irmãozinho caçula e temporão não era mais um bebê.


— Então você quer dar um  hashi para a Miriam, em substituição ao que ela perdeu?


— É, prometi isso... mas não encontrei nada que prestasse!


— Hum... um pauzinho especial para enfiar nos anéis de cabelos da namoradinha...  vamos nos afastar um pouco da Rua das Pedras e tentar encontrar algum hippie talentoso com balangandãs!


Joshua não captou a malícia nas palavras da irmã, e foi feliz com ela à caça ao hippie talentoso. 
Continua...
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