11 de jan. de 2013

Livro - Caninos Brancos - Jack London

Caninos Brancos (White Fang) é o protagonista deste belo romance de Jack London, e foi escrito em 1910. Conta a vida de um lobo selvagem que é 25% cão domesticado, porcentagem herdada de sua mãe, Kiche, que é metade cão, metade lobo.

Jack London narra a história sem fantasias, deixando a literatura crua e o leitor dividido entre amor e ódio pelo livro (e esses sentimentos se alternam conforme os parágrafos). Primeiro porque ele mostra a vida extremamente difícil para os animais do ártico, onde se inicia o livro, em que os lobos, praticamente mortos de fome, devoram cães e até homens, e você não sabe por quem torcer: se pelos lobos, pelos cães ou pelos homens, pois são todos um bando de infelizes desgraçados, todos vítimas da natureza cruel que os obriga também a serem cruéis para sobreviverem. Mas esse é só o primeiro caso de amor-ódio pelo livro, rs.

Todos os cães puxadores de trenó são devorados pela matilha de quase 40 lobos. Um dos homens também é devorado ao tentar salvar um dos cães. Sobra um homem que se salva por pura sorte. Bem, a história desse pessoal termina aí.

Daí vem a época do desgelo com a proximidade da Primavera e a fome começa a desaparecer, e o que antes era uma matilha unida na desgraça, se torna um amontoado de indivíduos que entram em conflito por algo mais cruel que a fome: o amor. E a matilha se desmantela: uns pares tomam rumos que lhes interessam; outros lutam até a morte para terem direito ao acasalamento. Dessa enorme matilha, entre mortos, feridos e os que deram no pé, ficaram Kiche, a meio lobo, e Zarolho, um lobo velho e guerreiro.

A Primavera chega e Kiche dá a luz a cinco lobinhos. Na luta pela sobrevivência - porque Primavera não é sinônimo de comida farta - o velho Zarolho perde a vida ao enfrentar uma Lince com crias. A essa altura, 4 filhotes dos lobos já morreram de fome, pois não há comida para os pais e nem para eles, sobrevivendo apenas o mais forte, que futuramente ganhará o nome de Caninos Brancos.

Sobram, então, a esperta Kiche e seu bebê, um lobinho muito inteligente que só conhecerá a dor e a crueldade nos primeiros cinco anos de sua vida, fazendo dele tão feroz e tão persistente quanto a própria natureza.

E, desde cedo, o pequeno lobo vivenciará e entenderá a principal lei da natureza: comer ou ser comido. Jack London não poupa o leitor ao narrar como a vida na selva é muito difícil e muito triste. Quando o lobinho começa a devorar um ninho de perdizes, a vontade é de matar o lobinho e até torcemos para que a mãe perdiz consiga isso, mas tudo que conseguiu foi uma asa quebrada e ser capturada por um falcão logo em seguida. Para mim, essa cena, até mesmo ingênua, foi a melhor representação de quão horrível é o nosso mundo e que a vida não tem nada de bela. E é aí que começamos a dar razão aos ateus.

Vamos pular para quando Caninos Brancos descobre os homens e ganha esse nome bobo que só poderia ter sido mesmo posto por um índio. E aqui o autor, igualmente, não passa mão na cabeça de ninguém. Aquela coisa de que índio respeita a natureza e os animais é conversa de new age.

Caninos Brancos, aos se deparar com os homens, é imediatamente colocado sob a condição de propriedade de um deles, o índio Castor Cinzento, que dentre as muitas ruindades que fará ao lobinho, está a de vender a mãe dele para pagar uma dívida, deixando Caninos Brancos inconsolável, ainda mais depois do espancamento que o índio dá nele.

E isso é tudo que terá do índio: espancamentos. No máximo, só não vai apanhar.

Caninos Brancos é brutalizado por toda a sua vida, por homens e outros cães, que só fará com que ele se torne uma fera cada vez mais selvagem e feroz, ardilosa e inteligente, mas sempre respeitando aos homens mediante à força bruta e covarde que eles exercem sobre si.

Até que Castor Cinzento trai mais uma vez o leal lobo: vende-o a uma aberração humana chamada "Beleza" Smith, que o espancará quase até a morte e o usará para ganhar dinheiro em rinhas. Então Caninos Brancos torna-se uma fera assassina, capaz de matar qualquer coisa que pôr na sua frente.

Mas Jack London acaba por ser bonzinho com seu personagem, quando põe no caminho dele uma alma bondosa (comparado aos outros homens) de nome Weedon Scott, que consegue despertar em Caninos Brancos o verdadeiro amor, pois, pela primeira vez em sua vida desde que teve contato com humanos, o lobo será tratado com respeito e carinho. Até então, as mãos dos homens, para Caninos BRancos, serviam apenas para machucar e ferir. E o lobo passa a se devotar a esse humano por amor e não pela dor, como fora com os outros.
 
Ao contrário de muitas histórias com bichos protagonistas, e apesar da vida horrível que Caninos Brancos teve que viver, essa tem um final belo e feliz, realmente fofo, na concepção exata do termo.

Há um obra cinematográfica feita pela Disney, que se diz basear neste livro, mas a história é muito diferente.

Apesar da vida curta - Jack London morreu antes dos 40 anos - ele escreveu em torno de 50 romances, todos retratando a vida natural e selvagem, uma descrição do próprio estilo de vida dele.

Caninos Brancos é uma obra prima, de verdade.

3 comentários:

Jossi disse...

Oi, Pat!
Pois é, eu li 'Caninos Brancos', que é a história do lobinho que vai para a cidade grande. E me parece que tem outra história sobre cães-lobos, em que o bichinho faz a viagem inversa, ou seja, o cão da cidade vai para a selva. É 'Chamado Selvagem', outro livro que está na minha lista de grandes obras universais sobre animais, que eu simplesmente a-mo ler.
Esse livro quase me fez chorar, pois a gente, querendo ou não, se coloca na pele de um animalzinho e acaba entendendo como eles devem se sentir... Mesmo sem o poder de comunicação que nós temos, eles são inteligentes, sentem, se emocionam. É um livro que nos faz repensar sobre nossas atitudes com relação a todos os animais que nos rodeiam, e como podemos agir, para tratá-los com mais amor e respeito. Lindo mesmo.

Parabéns por essa grande resenha, que nos instiga e desperta nosso desejo de ler e reler.
:)

Selene LaGuardia disse...

Oi, Pat! Nossa, pelo seu olhar o livro parece ser maravilhoso. Parece se bem realista, ao menos até o momento em que Caninos Brancos encontra Scott. Me dói pensar que são raras as almas como as desse homem. No primeiro semestre do ano passado estávamos estudando os esquimós na aula de Antropologia e em um dos textos falava sobre a distribuição da caça. Os lobos eram deixados por último; na hora de caçar eles deviam estar famintos, para possuir faro apurado. Tsc.
Vou anotar esse livro na listinha, mesmo que eu ache que não possua coragem de lê-lo.
Abraços!

Natália disse...

Olá!!

Acho que nunca havia lido nada onde um animal é protagonista O_O, foi lendo essa resenha que eu percebi isso.

Caninos Brancos, pela capa que você postou é dos livros de bolso da Martin Claret, fácil (depende do lugar) e barato de se conseguir.

A história parece ser mesmo ótima, já anotei o nome para não esquecer.

Obrigada pelas suas visitas, inclusive por comentar em posts passados!! ^^

Até mais

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