Resenha
do texto “Nossa Senhora da Help”
2-
SILVA, Ana Paula da. e BLANCHETTE, Thaddeus.Nossa Senhora da Help: sexo,turismo e deslocamento transnacional em Copacabana. In: Cadernos Pagu,
jul./dez., n.25, 2005.
O artigo da antropóloga Ana
Paula da Silva vem desmistificar uma parte do que ocorre no dito “turismo sexual”,
em que algumas vezes uma carga dramática é apresentada de forma exagerada,
cultivando vítimas e algozes.
Sem
querer desacreditar o grave problema que envolve tráfico de mulheres e
aliciamento de menores, que existem de fato e são chagas trágicas na nossa
sociedade, o artigo expõe o outro lado da moeda, em que turistas sexuais não
são vilões e as prostitutas não são vítimas passivas sem vontade e decisão.
Os
pesquisadores antropólogos, Ana Paula da Silva e Thaddeus Blanchette, se
embrenharam nas noites da Boate Help, famosa por promover a facilidade de
encontros sexuais e amorosos entre prostitutas brasileiras e turistas
estrangeiros.
Aproveitando-se de seus
próprios biótipos, os pesquisadores se mesclaram aos frequentadores e, a partir
daí, puderam fazer seus estudos sobre o comportamento dos ditos “turistas
sexuais” e das profissionais do sexo. Inconformados com as análises acerca do
turismo sexual, seus estudos de campo vêm provar que, embora o fato exista e
até certo ponto corrobora para que haja o tráfico internacional de mulheres,
tanto o turista quanto a prostituta não são meros estereótipos, em que o
primeiro é o bandido, aliciador de jovens ingênuas, e a segunda uma ovelha
passiva para ordenha e abate, mas que ambos possuem objetivos definidos, sabem
em que solo pisam e se utilizam de condutas morais próprias e estratégias de
abordagens, como ocorre em qualquer transação comercial entre cliente e
profissional.
No artigo - que esclarece
tratar-se de um pequeno universo, portanto não dita a realidade de outros
lugares do Brasil – os chamados genericamente de turistas sexuais são a minoria
dos homens estrangeiros que vem ao Rio de Janeiro unicamente com a intenção de
sexo, a esses denominados pelos próprios de “mongers”,
que consideram a busca por sexo como um hobby e estes vão a qualquer destino
turístico para tal finalidade.
A maioria é de homens que
estão a trabalho ou em férias – turismo de negócio e turismo de lazer.
Entretanto, pela propaganda negativa que se faz do Brasil nos países estrangeiros,
de que é um lugar degenerado, de sexo fácil e exótico, mesmo os turistas que
não estão aqui exclusivamente para tal finalidade, parecem precisar ter, ao
menos uma vez, relação sexual com brasileiras, como fosse isso um status de
viagem que deverá ser adquirido, do tipo “ir a Roma e ver o Papa”.
Na questão das prostitutas,
que longe estão de serem meninas ingênuas e obrigadas à prostituição, estão
mulheres com objetivos, sonhos e anseios como outras quaisquer, que encontraram
na prostituição uma forma de trabalho que serve tanto para o “ganha-pão” quanto
para a possibilidade de ascensão social, melhoria de vida e até oportunidade de
viagens internacionais.
Com códigos de condutas
apropriadas, preparo e abordagem aos potenciais clientes, algumas das profissionais
chegam, inclusive, ao casamento com estrangeiros, como fosse essa uma ascensão
profissional que lhes garantirá a “aposentadoria” da prostituição e uma
acentuada mudança de vida e condição. Entretanto, embora possível, não é fácil,
e isso não deve ser usado para romantizar a situação.
Quanto à questão da má
propaganda do Brasil no estrangeiro, algumas garotas de programa se utilizam
desse mesmo argumento para “subir de status” com seus clientes, de que “são
obrigadas a prostituição por conta das péssimas condições de sobrevivência de
um país falido”. Como boas empreendedoras, se utilizam de um argumento forjado
pela própria sociedade hipócrita, que gosta de tampar o sol com a peneira, para
fazer o sistema funcionar a favor delas.
Ao menos, entre os atores apresentados
na trama do artigo, não há vilões inescrupulosos e nem vítimas desgraçadas.
Apenas se mostra um negócio muito lucrativo promovido pela mais antiga
profissão do mundo.
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