Parte 7 – Canto de Amor
Eram quase oito da noite, mas por ser horário de
Verão, ainda havia o clarão vermelho no céu azul escuro, que começava a se
pontilhar de estrelas. A Árvore de Natal e o Presépio já estavam montados e a
praça já estava limpa e livre dos resíduos de toda aquela arrumação. Todos
estavam cansados, mas muito felizes, e o padre saía da igreja acompanhado de um
séquito de fiéis, após o termino da
última missa do domingo. Logo a Praça As Primaveras se encheu de pessoas, com
carrinhos iluminados de pipoca e algodão-doce espalhados pelos cantos da praça.
Assim que as luzinhas da árvore e do presépio foram acesas, seria oficialmente
inaugurado o Natal em Barra de São João.
O padre aspergia água nas decorações natalinas,
dando as bênçãos ao trabalho artesanal e braçal de todos. Joshua estava muito
cansado, afinal jamais antes fez tamanho esforço. Sequer, alguma vez, limpou o
próprio quarto. Ao contrário dele, Miriam não demonstrava cansaço algum. Ela
estava com aquele sorriso e olhos iluminados, olhando fixamente o pinheiro
feito com folhas de palmeira, galhos e cipós, ansiosa para a inauguração. E,
com isso, Joshua percebeu que estava
cansado mas feliz.
Com um estouro de fogos de artifício, as luzes
coloridas foram acesas, iluminando a árvore e o presépio. Fios de pequenas
lâmpadas foram espalhados pelas árvores da praça e no coreto, que ganhou uma
decoração mais caprichada, com luzinhas que piscavam em cadências variadas e musiquinhas que tocavam marchinhas natalinas
tradicionais.
— Bem vindo ao nosso Natal comunitário, Joshua!
Sei que não é glamoroso como o da Capital, com a Árvore da Lagoa e os presépios
do Jardim de Alah, mas espero que você curta, apesar de simples.
— É verdade... – O garoto voltou-se sorridente
para Miriam. — Não é como de lá, que é só ostentação para gringo ver! Esse foi
feito com carinho por todos nós e para nós mesmos! Estou muito feliz de ter
participado disso... com você!
Miriam não esperava uma declaração dessas e
olhou assustada para Joshua. Encabulada, levou as mãos aos cabelos, fingindo
que os arrumava para disfarçar o nervosismo.
Nem precisou disfarçar por muito tempo. Ao levar
as mãos aos cabelos, percebeu que eles estavam soltos.
— Ai, não! Perdi o meu palito!
— Palito?
— É, de prender cabelo! Foi o avozinho Pedro que
fez pra mim! Gostava tanto desse prendedor...
— Podemos vir aqui amanhã, procurar durante o
dia. Com certeza tá caído aí em algum lugar.
— Duvido! A gente já varreu tudo. Se ele caiu
por aí, deve ter ido pro lixo. De qualquer jeito, não dá pra eu vir aqui durante a semana... só no outro
sábado, e à tarde!
— Então... não nos veremos na semana?
A pergunta pegou Miriam de surpresa, mais uma
vez. Depois dos instantes de assombro, ela sorriu, indo em direção à sua bicicleta.
— Estou fazendo as provas finais na escola...
entro de férias daqui a duas semanas e, aí... aí vou poder sair um pouquinho à
noite, sim.
Joshua sorriu ante aquilo que lhe parecia uma
aceitação de seu implícito convite.
— Também estou pra entrar de férias... então a
gente vai poder vir aqui na praça ou andar pelo Praião?
Miriam sorriu encabulada, assentindo com a
cabeça, que fazia seus cachinhos dourados pelo sol saltarem, enquanto montava
na bicicleta. Aquele cenário bucólico, na noite brilhando com
luzinhas de Natal, emocionaram Joshua de uma forma inédita, que ele não sabia
explicar. Sendo o impulso mais forte do que ele, se aproximou da garota antes
que ela partisse, levando a mão aos cachinhos dela, percebendo surpreso que
eles eram macios como lã.
— Não fica chateada por perder o seu prendedor.
Vou te dar um novo! Presente de Natal!
Se permanecesse mais um tempo ali, Miriam
morreria! Não sabia o que era aquilo, mas o garoto a deixava tão sem jeito quanto feliz. Embora ela não
fosse tímida, no momento estava acanhada, sentindo até o rosto arder como se
tivesse ficado exposto ao sol sem proteção.
Sem conseguir articular
palavras, meneou a cabeça, concordando, e partiu o mais rápido que podia, se
equilibrando heroicamente sobre a bicicleta, enquanto sentia o seu corpo
ondular, como se resistisse às ondas do Praião.
Continua...
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