Ele jamais comprara algo para uma garota em toda
a sua vida. O mais próximo disso foram os presentes para a mãe, mas sempre em
companhia do pai e geralmente com a escolha dele.
Naquele momento vivenciava mais um algo novo: a
busca pelo presente perfeito para a primeira menina perfeita da sua vida!
Prometeu a ela que lhe daria um novo palito para
prender cabelos, embora achasse que os cabelos dela eram bonitos demais para
ficarem presos. Mas promessa é dívida. E
ele estava duplamente endividado com Miriam!
Rodeou a manhã inteira de sábado em busca do tal
prendedor. Nem tanto por lojas, que essas eram mínimas na região. Foi de Barra
à Rio das Ostras de bicicleta, sempre atento em encontrar algum artesão pelas
ruas.
Já cansado pela busca frustrada, xingou
mentalmente por não encontrar nenhum hippie pelas praias, com suas esteiras
cheias de badulaques e bijuterias rústicas e únicas. Figuras tão comuns nesses
lugares, mas não quando mais se precisava delas!
Voltou para casa com as pernas doloridas de tanto
pedalar. Tomou banho, almoçou e caiu na cama, adormecendo instantaneamente.
Teve sonhos perturbadores ocasionados pela culpa e
frustração que sentia em relação à Miriam.
Acordou sobressaltado, com sua irmã mais nova, de 25 anos, lhe cutucando o ombro. Ela viera para passar
o Natal com os pais e o irmão caçula... e ela era exatamente quem Joshua mais precisava naquele momento
delicado!
— Acorda, velhote! Um moleque da sua idade
dormindo em plena tarde de sábado?! E ainda por cima nesse lugar maravilhoso de
praias deliciosas?! Vai se aprontar, preguiçoso! Nós iremos jantar em Búzios e
fazer comprinhas na Rua das Pedras!
Ir com sua irmã Madalena em Búzios? Fazer
comprar na Rua das Pedras?
Após um minuto de hesitação e rabugice por ter
sido acordado daquele jeito, Joshua percebeu a muito conveniente oportunidade
que se apresentava diante dele! Sim! Lá em Armação de Búzios ele encontraria o
presente perfeito para a sua menina perfeita!
~*~*~*~*~
Depois que sua irmã ficou satisfeita com as
fotos tiradas ao lado de Brigitte Bardot, ou melhor, da estátua dela forjada em
bronze, Joshua e a família foram jantar. Era um restaurantezinho tradicional,
com peças náuticas decorando o lugar e velas coloridas acesas sobre garrafas de
vinho, com as ceras multicolores de milhares de velas anteriores que se derreteram sobre o gargalo, formando
uma escultura espontânea e única em cada “castiçal”.
José e Maria não tinham o mesmo pique dos filhos
e preferiram não acompanhá-los na incursão pela Rua das Pedras. Ficaram
esperando por eles na varanda de uma cafeteria que possuía uma vista
privilegiada do mar de Búzios, com seus tradicionais transatlânticos brancos
que mais pareciam enormes ilhas flutuantes e fantasmagóricas contra o cenário
noturno.
Joshua entendeu isso como mais uma “conspiração
do Universo” a seu favor. Precisava desabafar e sabia que Madalena seria a melhor confidente e
conselheira que ele poderia querer. Ela era a filha caçula antes de ele nascer.
E um dos temores dos irmãos é que Joshua se tornasse muito dependente, tímido e
inseguro, devido à superproteção que os pais poderiam dar ao filho temporão.
Isso apenas não aconteceu porque seus dois irmãos mais velhos – Mateus e
Isabel, que tinham idade para serem pais do caçula! – orientaram os próprios
pais perante uma criança que não carecia de cuidados além dos que se devem
dispensar a qualquer criança.
E, em muito pouco tempo, Joshua relatou toda a
sua nova vida em Barra de São João, sem omitir Miriam e tudo que a envolvia.
Madalena olhou para o irmão com um sorrisinho
enigmático. Não havia mais o que temer pela criação super protetora, que
felizmente jamais existiu de fato... o irmãozinho caçula e temporão não era
mais um bebê.
— Então você quer dar um hashi para a Miriam, em substituição ao que
ela perdeu?
— É, prometi isso... mas não encontrei nada que
prestasse!
— Hum... um pauzinho especial para enfiar nos
anéis de cabelos da namoradinha... vamos
nos afastar um pouco da Rua das Pedras e tentar encontrar algum hippie
talentoso com balangandãs!
Joshua não captou a malícia nas palavras da
irmã, e foi feliz com ela à caça ao hippie talentoso.
Continua...
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