Parte 10 – Palavras no Mar
Miriam ainda caminhava pelas praias em busca de
conchas abandonadas pelos moluscos, para a confecção de seu artesanato feito
com palha, junco, cipó ou vime. Gostava especialmente das bijuterias que lhe
adornavam o pescoço e pulsos, com pontos e amarrações incrementados,
entremeados com conchas, pedrinhas, miçangas ou sementes.
Era final da tarde de sábado. Três semanas
antes, havia tomado aquele bolo de Joshua. Nesse mesmo dia, horas antes, quando
se desocupou dos afazeres da pensão, começou a trabalhar numa trama em tiras
fininhas de palha de palmeira, entremeando com sementes e conchas minúsculas.
Seria uma pulseira. E seria uma pulseira muito especial: seria o seu primeiro
presente para o seu primeiro namorado!
Suspirou decepcionada. Depois do fora que
sofreu, não teve ânimo de pegar a peça para terminá-la, até aquele momento...
afinal, chegou à conclusão depois de muito pensar, que se ela se decepcionou
foi unicamente por sua própria culpa, pois foi ela quem criou expectativas... e
as expectativas sempre levam a imaginar demais,
levam às ilusões!
~*~*~*~*~
Um dia antes foram as provas finais de Joshua.
Apesar dos seus 14 anos, ele cursava o primeiro ano do Ensino Médio. Sempre
fora bom aluno, sendo dos melhores em todas as classes que frequentou, e não
podia ser menos: por mais amorosos que fossem seus pais, eles eram seriamente
rígidos quanto aos estudos. Todos os outros quatro irmãos sofreram um bocado
com essa rigidez, especialmente Tiago, o Artista da família, que jamais se
habituou à rigidez e aos estudos
tradicionais.
Joshua estava confiante. Tinha certeza de que
tiraria notas altas em todas as provas. Estudou tanto e estava com tanta raiva
por ter falhado com Miriam, que era uma questão de honra e vingança vencer as
famigeradas provas e superar as dependências nas três matérias mais
complicadas do mundo!
Provas feitas. Interrogatório dos pais
respondido de forma a satisfazê-los. Liberdade condicional consentida. E a
primeira coisa que fez foi pegar a sua Mountain Bike de alumínio e rodar por
toda Barra de São João, em busca de sua Sereia Negra.
Entretanto, por mais de duas horas procurando
por Miriam, não a encontrou. Afinal, ele sequer sabia que ela, na realidade,
morava em Aquarius, depois da ponte, e não em Barra.
Frustrado, pedalou até a praça, indo descansar
em um banco próximo à Árvore de Natal que ajudou a montar. Lembrou-se de todos
os minutos daquele dia especial em que passou ao lado de Miriam. E, ao pensar
na promessa que fez a ela, uma estrela cadente riscou o céu noturno, exatamente
sobre o topo da árvore. Joshua piscou algumas vezes, pois estrela cadente era
coincidência demais! Então, provavelmente, seus olhos se enganaram com as
luzinhas da decoração.
Levantou-se e parou, solenemente, diante da
grande Árvore de Natal feita em palha, galhos e bambus. Reviveu, mais uma vez,
as emoções daquele dia e o quanto aquilo lhe parecia mágico. Não. Fora mesmo uma estrela cadente!
— Eu faço um pedido... me dê a chance de pedir
desculpas à Miriam e entregar a ela o presente que prometi!?
E a lampadinha na ponta da
árvore, que iluminava a estrela feita de Cipó de Caboclo, brilhou de uma forma
mais intensa.
Continua...
Um comentário:
Olá! Sempre ótimas as postagens do seu blog!!!! Aproveitando a visita quero dizer também que coloquei você dentre os meus parceiros ok se puder retribuir eu agradeceria muito beijos!
http://priscilila.blogspot.com.br/
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