22 de jul. de 2016

Livro - Resenha de A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário

Resenha do Livro - A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário, de Denis Thériault.

Sinopse:
CARTAS, POESIA E UM AMOR INESQUECÍVEL. Bilodo vive a tranquila vida de um carteiro sem muitos amigos nem grandes emoções. Completa diariamente seu percurso de entrega e retorna sempre à solidão de seu pequeno apartamento em Montreal. Mas ele encontrou uma excêntrica maneira de fugir dessa rotina: aprendeu a abrir as correspondências alheias sem deixar rastros e passou a ler as cartas pessoais com as quais se depara. E foi assim que ele descobriu o primeiro grande amor de sua vida: a jovem professora Ségolène, que mantém uma misteriosa correspondência com o poeta Gaston, composta somente por haicais. Instigado pela elegância e simplicidade de seus versos, Bilodo se vê cada vez mais fascinado por essa forma de poesia. Mas quando é confrontado com a perspectiva de se ver privado das cartas de Ségolène, ele precisa tomar uma decisão que pode levá-lo mais longe do que podia imaginar. Talvez seja hora de compor seus próprios poemas de amor. Peculiar e charmoso com um desfecho bem executado , esta novela traz à mente nada menos do que um Kafka apaixonado.

Sobre o autor: 
Nascido na costa norte do Golfo de St. Lawrence, Quebec, Denis Thériault tem licenciatura em psicologia, é um roteirista premiado e vive com sua família em Montreal. Seu primeiro romance, L'iguane, foi publicado com grande aclamação da crítica e ganhou os prêmios literários France-Québec 2001, Anne-Hebert 2002 e Odyssée 2002. Este é seu segundo romance. 

Meu Achismo:

Às vezes, caem em nossas mãos, sem que tenhamos qualquer expectativa, pequenos regalos que até nos surpreendem... primeiro por não haver expectativas por cima, segundo porque descobrimos que ainda se produz obras sentimentais.

A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário é surpreendente sob o aspecto da atual produção literária publicada pelas grandes editoras ser apenas produtos sem valores, seja estético, moral, artístico ou cultural. São produtos de entretenimento para uso e descarte, com suas novelas intermináveis, suas criaturas bizarras (e nem me refiro apenas à Literatura Fantástica), e sua baixa moralidade típica esquerdista. Carteiro Solitário (vamos abreviar esse título, né?) é uma obra lúdica, despretensiosa e muito intimista. É subjetiva do início (e principalmente) ao fim. É uma prosa-poética permeada de haikais, que são a alma do livro.

Adquiri esse pequeno regalo numa promoção da loja física da Americanas. Já era promocional (R$ 9,90) e naquele dia vários livros estavam ainda com 50% de desconto. Então me dei ao luxo de escolher alguns livros pela capa, no caso este que vos resenho... o que não é totalmente verdade, pois outros eu dispensei mesmo com lindas capas :P 

Bem, a minha escolha para esse livro foi o título e a capa, por R$ 5 valia arriscar. E peguei para ler não por curiosidade (o que não falta em casa é fila de livros a serem lidos), mas porque é um livro pequeno, de pouco mais de 100 páginas.

Não vou ficar aqui desfiando a história, que já está bem desfiada na sinopse oficial apresentada no início da postagem. Apenas digo que o personagem principal, o carteiro Bilodo, vem na contramão dos atuais protagonistas da literatura. Ele é tão introvertido que desconfio beirar o autismo. É sensível e possui até mesmo uma inocência infantil, realmente possui uma bondade incomum, facilmente confundida com bobeira.

Bilodo leva sua vida comum de pacato cidadão até que descobre a diversão através da violação de cartas alheias (arte antiga essa!): abrindo as cartas de forma que fosse imperceptível ao remetente, lia, se deliciava, voltava a fechar e a entregava naturalmente ao seu destino, do dia seguinte. Mas uma dessas correspondências o intrigou: as de Ségolène, que sempre continham um tipo de pequena poesia com apenas três linhas, mas que causavam uma emoção tão forte no jovem carteiro, que ele acabou se apaixonando pela moça e vivenciando, assim, a beleza do amor perfeito preconizado por Platão, até que uma tragédia o traga para dentro daquele mundo.

Uns poderão achar aquilo loucura, obsessão ou até mesmo psicose, mas acho que olhar apenas para esse lado é diminuir a profundidade psicológica do personagem e da obra. Há uma beleza sutil na construção de cada haikai e na forma como Bilodo se comporta ante isso. 

O desfeche da trama é surpreendente, mesmo porque é totalmente inesperado. Um vórtice no tempo foi criado na tragédia que tragou Bilodo para dentro do drama das trocas de haikais, e você termina o livro sem saber quem era Bilodo e quem era Gaston, o verdadeiro poeta que trocava haikais com Ségolène.

Apesar de melancólico e contendo umas partes dispensáveis (todas em que o personagem Robert aparece como antagonista), A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário é um livro que vale a pena a aquisição, e sua leitura faz o dia ficar mais bonito.



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