RESENHA do artigo “Turismo cultural e patrimônio: a memória pantaneira no curso do rio Paraguai”, de Álvaro Banducci Jr.
BANDUCCI Jr, Álvaro. Turismo cultural e patrimônio: a memória pantaneira no curso do rio Paraguai. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 117-140, outubro de 2003.
O artigo de Álvaro Banducci Jr trata sobre o impacto da hidrovia na costa fluvial do Rio Paraguai, entre os trechos da cidade de Cárceres (MT) e Porto Murtinho (MS). O estudo serviu de base para outro estudo, o do impacto socioambiental do Turismo no Pantanal, e avaliar o patrimônio histórico e cultural para um tipo mais específico da atividade turística.
Em poucas páginas expostas das anotações de viagem feitas da Expedição Cárceres-Porto Murtinho, é possível avaliar o impacto negativo ocasionado por uma atividade que se pretende chamar de turística, que é apresentada em sua pior faceta, a mais degradante: quando o Turismo é voltado exclusivamente para a questão financeira e, por consequência, se passa por cima de tudo e de todos para garantir o lucro final.
A Expedição Cárceres-Porto Murtinho, feita pela rede fluvial de hidrovia, através de 1200 km do Rio Paraguai, iniciando-se no Mato Grosso (em Cárceres) e se finalizando no Mato Grosso do Sul (em Porto Murtinho), tinha por principal objetivo fazer o estudo e mapeamento das zonas de degradação nas margens do Rio Paraguai, ocasionado pela exploração “turística” da região. A expedição foi promovida em conjunto das instituições CEBRAC e ICV, a pedido da WWF, que atua mundialmente pela preservação do meioambiente e manutenção da vida silvestre.
O “turismo” altamente degradante praticado na região colocou – e ainda coloca – em risco não apenas a flora e fauna nativa em seu delicado ecossistema, mas também a própria história do homem pantaneiro no curso da colonização que se iniciou no início do século XX e muito antes mesmo disso, dos povos aborígenes e primitivos que se pode datar em até 5 mil anos de ocupação humana na região.
Na região cortada pela hidrovia Paraguai-Paraná, o “turismo” praticado é o da pesca esportiva, duas atividades que, ao se misturarem, se tornam moralmente antiéticas, pois se pressupõe que tanto a pesca quanto a caça são atividades de subsistência, praticadas ao mínimo possível e apenas quando realmente necessárias (o que não é o caso, em absoluto, de qualquer um que viva em cidades ou localidades com o mínimo serviço de comércio e produção). Uma atividade de subsistência tornada esporte é, no mínimo, amoral.
No artigo de Álvares Banducci Jr, se expõe a pesca esportiva como atividade turística e rentável para o povo que vive nas regiões margeadas pelo Rio Paraguai, gerando empregos e renda extra para alguns que se favorecem de forma indireta. Em seu lado negativo – e até perverso – se expõe uma calamidade tanto social quando ecológica: a degradação do meio ambiente, da flora, da fauna, das águas e dos terrenos; a degradação humana, da submissão dos povos ribeirinhos até o aliciamento de crianças na prostituição infantil.
E, se apenas a degradação sócio-ambiental não fosse o suficiente, há ainda sérios riscos de se perder evidências e provas materiais da atuação humana na região, desde os primitivos povos aborígenes até, mais recentemente, a riqueza de uma época áurea das grandes fazendas e colônias. Enfim, o artigo de Banducci expõe os dois lados da moeda chamada Turismo: a sua pior faceta, quando é voltada ao lucro sob qualquer custo, visando apenas o momento presente; e a sua face nobre, com o qual o termo ‘turismo’ encontra sentido verdadeiro: quando se torna um propósito para a conservação dos bens patrimoniais, culturais, ambientais, móveis e imóveis; para a descoberta da História e a redescoberta de histórias locais; na manutenção de expressões culturais; na preservação da vida animal, vegetal e humana; em trazer perspectivas e oportunidades verdadeiras para as pessoas que vivem nas localidades, oferecendo um desenvolvimento material sadio sem que, com isso, abram mão de seu modo de vida e atividades.
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