29 de ago. de 2012

Relações Intrarraciais - Parte 2

O Brasil é o coração do mundo. Um coração de mãe, que acolhe filhos de todas as terras. País paradisíaco, de belezas e riquezas naturais. É a Terra Sem Mal profetizada pelo caraíba aborígine. É também a Terra Prometida que muitos judeus aqui encontraram. De um ponto a outro encontramos pequenas representações do mundo e um mundo de pessoas.

No Brasil atual não é mais possível afirmar que o seu povo provém de apenas três raças básicas. Não apenas mais o aborígine, o negro africano e o branco português. A riqueza do país não está apenas na terra, mas no gen de cada indivíduo do nosso povo. Um pouquinho do gen de cada povo do mundo. Porém, o que deveria ser entendido como riqueza e beleza singulares, é visto como inferioridade, como uma degradação da espécie humana. Isso tudo porque a nação foi alicerçada sobre a violência e a crueldade de um humano sobre o outro.

1500 – A invasão do Brasil

Quando os portugueses aqui chegaram de forma massiva, havia mais de mil etnias aborígines distintas, somando algo entre 3 a 5 milhões de habitantes, divididos em diversos grupos, sendo que quatro eram os mais importantes: tupi-guarani, jê, nuaruaque e caraíba. No fim do século XX, esses números reduziram para 300 mil pessoas divididas em 170 grupos lingüísticos, considerando como grupo com, pelo menos, 1 indivíduo que fale o idioma ou dialeto. Com esses números, pode-se afirmar que a população nativa foi dizimada em 4 séculos de jugo e barbárie. Não apenas vidas se perderam, mas algo muito maior, de incalculável prejuízo para a humanidade: as etnias. A dominação pelos brancos, inclusive pelos padres jesuítas, causou o etnocídio: o extermínio total e completo de um povo e todas as referências a ele. Sem esses registros, seremos eternamente órfãos de nossas reais origens e o Brasil jamais saberá de qual semente germinou.

Portanto, quando os portugueses aqui invadiram, encontraram o lugar habitado, com uma organização comunitária simples instituída, embora fosse rudimentar. Pondo à parte o holocausto desses povos, houve a primeira miscigenação que começaria a formar o povo brasileiro: do homem português com a mulher índia.

Houve muitos casamentos, outros apenas acasalamentos, entre portugueses e índias. Com a chegada dos padres da Companhia de Jesus, institucionalizou-se esses casamentos de acordo com a Igreja e as mulheres assumiram um nome cristão e seu passado completamente apagado. Esse foi um fato para não existir tais registros que comprovem a mestiçagem do branco com o aborígine de algumas famílias antigas.

Entre os séculos XVI e XVII, começou a se desenvolver o comércio escravista de pessoas traficadas do Continente Africano, substituindo, gradativamente, o escravo aborígine pelo escravo africano. E nessa época, europeus de outras nacionalidades também começaram a sua invasão às Terras Brasilis: espanhóis, holandeses, franceses. E a cada novo integrante de uma determinada nação que é introduzido no Brasil, mais o sangue se dilui, mais a carne se miscigena. E, apenar dos pesares, mais a cultura se enriquece, embora seja uma cultura fragmentada, formando uma grandiosa colcha de retalhos.

Nas navegações portuguesas eram empregados marinheiros de diversas nacionalidades, tornando a fauna humana brasileira bastante diversificada: italianos, ingleses, franceses e alemães. Grande número de flamengos se fixaram no nordeste, estimulados pelo domínio da Holanda sobre a capitania de Pernambuco, que durou de 1630 até 1654, quando foram derrotados e expulsos por colonos portugueses. Mas é graças a esse curto domínio da Holanda que existe o maior número de registros iconográficos e textuais sobre os aborígines brasileiros ainda existentes na época.

À época, índios e negros não eram considerados gente, no máximo pertenciam a uma sub-raça humana. Se eles que eram indivíduos de sangue-puro, eram considerados inferiores, o que se diria do produto derivado de duas raças distintas ou mesmo entre duas sub-raças? A miscigenação criava seres mais infelizes e desgraçados. Não raro, grandes senhores de terra negavam de todas as formas a sua ascendência, mesmo que os sinais de sua miscigenação estivessem bem impressos em sua face. Qualquer relação de sangue com inferiores seria considerado uma grande vergonha, sem contar que o tal senhor perderia sua moral diante da sociedade branca e superior.

No século XVIII ocorreu a Revolução Industrial e o mundo jamais seria o mesmo: ele mudou, se modernizou, ficou mais acelerado e o capitalismo substitui o antigo sistema. Não havia mais espaço para o arcaico, e isso incluía a escravidão – não por uma questão de ascensão de consciência, mas porque não servia ao novo sistema, pois era necessário pessoas capacitadas para operar máquinas.

Nação modernizada ou embranquecimento da população?

No final do século XVIII, tinha início o capitalismo industrial e a sua maior potência, na época, era a Inglaterra. Enquanto o mundo se transformava e modernizava em conseqüência da Revolução Industrial, o Brasil permanecia com o seu arcaico e obsoleto comércio escravista, o que não era bem visto pelas outras nações, não por uma questão humanista, mas econômica e financeira.

Com uma nova classe social surgida com a R.I., a classe operária, o comércio se expandiu em proporções nunca antes imaginadas, impulsionado pelo advento das grandes embarcações movidas a vapor e a criação de ferrovias. A classe operária era composta de homens livres que vendiam a força do seu trabalho, sendo que eles se transformavam, também, em consumidores das mercadorias e produtos que eles próprios fabricavam; também era os responsáveis por seu sustento e moradia, o que era totalmente inverso do sistema escravista.

Para a Inglaterra, o escravismo era um estorvo ao crescimento do capitalismo industrial. Suas fábricas e o seu capital queriam se expandir a novos mercados, queriam mais consumidores de outros países. E como o Brasil era financeiramente dependente da Inglaterra, ele sofre uma enorme pressão para o fim do escravismo – afinal escravo não consome, apenas sub-existe.

Como tirar o Brasil de tal atraso tecnológico, afinal? A resposta foi a abertura aos imigrantes europeus de vários países, que reuniam várias vantagens: eram brancos; eram experientes com o uso da terra; estavam familiarizados com a industrialização.

Graças à imigração, num curto período de apenas 30 anos – de 1890 a 1920 – a população do Brasil dobrou de 14 milhões para 30 milhões, havendo uma expansão acelerada da indústria e a formação da população urbana. Com isso, multiplicou-se os investimentos estrangeiros que transformaram a maior cidade do país, a que abrigou grande parte do contingente imigrante, tornando São Paulo a metrópole industrial do país. Parte de sua população era composta por imigrantes portugueses, espanhóis, italianos, alemães, árabes, judeus e japoneses, com o duplo objetivo de substituir o trabalho escravo e embranquecer a população.

Tabela da imigração no Brasil, entre 1890 e 1929. *
Italianos
1.156.472
Portugueses
1.030.666
Espanhóis
551.385
Alemães
112.593
Russos
108.475
Japoneses
86.577
Austríacos
79.052
Sírio-libaneses
73.690
Romenos
28.110
Poloneses
28.110
Lituanos
26.374
Iuguslavos
22.127
Outros (Húngaros, tchecos, suíços, etc.)
219.444
* Tabela copiada do livro “Cinco Séculos de Brasil”, página 79.

Embora o Brasil inteiro tenha sido tomado pela imigração dos cidadãos do mundo, foi São Paulo o estado mais contemplado com isso. Os imigrantes agruparam-se em comunidades e introduziram seus costumes, sua comida, sua música, suas expressões idiomáticas, suas vestimentas, seus gostos e seus ideais.

As agitações operárias e as reivindicações por melhorias no trabalho entre 1915 e 1930 foram movimentos influenciados por imigrantes italianos e espanhóis. O Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1922, estava ligado diretamente com a recém-formada União Soviética. Todas essas agitações provocadas pelos imigrantes eram um choque para a sociedade brasileira que permanecia com a débil mentalidade senhorial e paternalista, típica da era escravista (aliás, resquícios de tal mentalidade ainda permanecem até os dias de hoje).

@patkovacs

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